domingo, outubro 26, 2008

A Muller Dormida

A semana passada fui surpreendido pela Eva Doroxo que partindo de uma foto minha, escreveu um belissimo poema em galego.
Nude, Porto, Portugal


emerxo serea da verticalidade na que me atesouras.

mergullada na inmensidade do gris, alónxaste de min,
trémenme as pernas cando sinto teu alento entre elas,
oscilo lambela no ferro de teu corpo erecto.

somos cerámicas en composición asimétrica,
un ángulo imposible no que trasladarnos.
mollásme coa latitude esforzada:

meus beizos, túa lingua.
meus ollos, túa nostalxia.
meus agarimos, túa roupa.

tumbarme en ti desexo,
caer escama a escama en teu corpo arácnido e tecernos baixo unha rede de escuma,
mostrar meus peitos de musa entre túas maus de xeo rompendo a aritmética dos sentidos.

(Eva Doroxo)



Sem dúvida que a Eva escreve muito bem como se pode ler no seu blog, mas o facto de se inspirar numa fotografia minha encheu-me de alegria. Senti que a foto cumpriu mais uma missão.
Para completar esta pequena homenagem à Eva deixo também aqui a tradução do seu poema que o Alberto Miranda fez para Português (ou como ele diz: ortografado em Português):

emerjo sereia da verticalidade onde me entesouras.

mergulhada na imensidade do gris, afastas-te de mim,
tremem-me as pernas quando sinto o teu alento entre elas,
oscilo lâmpada no ferro do teu corpo erecto.

somos cerâmicas em composição assimétrica,
um ângulo impossível para a trasladação.
molhas-me com latitude esforçada:

meus lábios, a tua língua.
meus olhos, a tua nostalgia.
meus carinhos, a túa roupa.

Acampar em ti desejo,
cair escama a escama no teu corpo aracnídeo e tecer-nos sob uma rede de espuma,
mostrar os meus peitos de musa entre as tuas mãos de gelo rompendo a aritmética dos sentidos.

(Eva Doroxo; trad: Alberto Miranda)


Muito obrigado por esta surpresa!

sábado, outubro 25, 2008

Momentos

O tempo parece que voa quando nos ocupamos com aquilo que nos faz sentir preenchidos. Quando nos apercebemos já estamos a aterrar de novo dessa viagem ao prazer de viver. Parece que tudo passa demasiado rápido, queremos mais e começamos já a suspirar por uma nova oportunidade. E ela virá certamente.
Momentos assim, só nos podem fazer bem! Independentemente da sua duração.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Persona


Persona

Ontem fui ao teatro. Confesso que esta arte não faz parte da minha rotina de cultura e lazer, por isso cada vez que vou ao teatro sinto-me numa processo de descoberta que quase sempre me atrai imenso. Ontem consegui reunir um conjunto de amigos e avançamos para o Estúdio Zero. no Porto onde As Boas Raparigas nos apresentam Persona, uma adaptação ao teatro do filme com o mesmo nome de Ingmar Bergman.

Num ambiente íntimo com o público, as emoções humanas e os seus conflitos são colocados a nu como é apanágio dos trabalhos do realizador sueco. E quase que entramos nas personagens e nas suas vivências. A terapia confunde-se com a narrativa de vida e as confissões. Tudo servido num enredo intenso e envolvente.
As duas personagens, a Elisabet Vogler e a enfermeira Alma, percorrem uma processo em que se perde a noção de quem ajuda quem, como se fosse um jogo de espelhos e de identidades. O poder da palavra e do silêncio acaba por ser mostrado pela sua importância na construção de uma relação marcada pelas dificuldades de comunicação perante a fragilidade humana.

Até 2 de Novembro, recomendo que vejam esta peça com sessões de Terça a Domingo pelas 21:45 na Rua do Heroísmo no Porto. Ver mais detalhes em Estúdio Zero.

A magia do teatro desligou-me da agitação dos dias, levou-me de visita pela fantasia e acariciou-me a alma. Fiquei com vontade de continuar a descoberta, regressando em breve a um teatro para me deixar levar pela poesia que nos toca e afaga.

sábado, outubro 11, 2008

Filo-Café

Poster de Anúncio do Filo-Café Fecundação e Alívio

A incomunidade anunciou a marcação do filo-café sobre o tema Fecundação e Alivio.

O local escolhido foi o Orfeão do Porto que é hoje o mais antigo orfeão no nosso país com actividade ininterrupta, dado que foi fundado em 1910. As suas instalações na Praça da Batalha em pleno centro do Porto vão acolher o filo-café de Novembro. As inscrições para participação artística encontram-se abertas neste momento, sendo que o evento será aberto a todos de forma livre.
A data escolhida foi 22 de Novembro, o que permite a preparação da participação de quem quiser partilhar os seus trabalhos artísticos.

O cartaz, de minha autoria, junta-se assim ao texto que já aqui partilhei anteriormente como forma de preparar mais um evento da incomunidade e do seu mentor: Alberto Augusto Miranda.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Fecunda-me

A tua presença desenvolve em mim uma mansidão que me inunda e me abriga de desesperos mais ou menos abruptos por onde deambulo. Mais do que me contagiar, tu promoves em mim um germinar de tranquilidade.
Vem! Fecunda-me com essa tua serenidade de afectos! Faz nascer em mim essa sensação suave e forte que me acalma.
Fecunda-me como tu bem sabes! Fecunda-me para que eu consiga aliviar meus medos e fantasmas. Fecunda-me com a tua capacidade de me pacificar. Sim, fecunda-me com a quietude com que anulo as ansiedades tolas que por vezes carrego em mim.
Fecunda-me profundamente! O alívio surgirá da gestação desse semear de afectos com que me mimas nesse coito espiritual.
Fecunda-me! Sim! Fecunda-me!



Este texto é a minha resposta ao apelo da Incomunidade para trabalhos sobre o tema Fecundação e Alívio. Os trabalhos servem de preparação para o próximo filo-café a realizar em Novembro na cidade do Porto.
Mais contribuições podem ser já vistas na
Incomunidade. Participem deste desafio também.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Dilema

Na procura de não impor a minha presença acabo quase sempre por me confrontar com o receio de parecer distante ou inacessível por não saber demonstrar o meu desejo e disponibilidade.

domingo, outubro 05, 2008

Florbela Espanca por Gaspar de Jesus

Gaspar de Jesus com o presidente da C.M.Matosinhos Guilherme Pinto

Gaspar de Jesus inaugurou ontem a sua nova exposição de fotografia em Matosinhos que estará patente na Biblioteca Florbela Espanca até final de Outubro.
Vale a pena passar por lá e ver como Gaspar interpretou a poesia de Florbela através dos seus registos fotográficos. Num espaçogradável e com uma organização muito bem conseguida, percorremos a poesia pelas imagens! Sem dúvida que é mais uma prova de que a poesia está bem para lá das palavras porque não se confina a elas.
Gaspar de Jesus

Parabéns Gaspar.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Faróis

Bailey Lighthouse, Howth, Dublin, Ireland

O farol existe para ser visto ao longe, para assinalar a costa, para marcar os obstáculos à navegação, para servir de marca a quem percorre mares mais ou menos turbulentos e para sossegarem os ânimos mais perdidos. São locais extremos mas também únicos.

De certo modo, também nós acabamos por descobrir e assinalar os faróis que nos servem de referência e nos permitem seguir em frente nas ondas da vida. Podem ser lugares, pessoas, acontecimentos, músicas, sonhos ou qualquer outra forma de nos ajudar a encontrar e seguir o nosso caminho.