Sobre o amor
“- É tão bom estar contigo como ter saudades tuas – dizia-me ela a rir, quando estávamos algum tempo sem nos ver.
Via-se que não queria criar comigo qualquer espécie de dependência e a única coisa que esperava de mim era o meu afecto e a minha paz. Nunca quis a chave de minha casa e telefonava-me sempre antes de vir. Uma vez por outra, ficava a noite comigo mas, logo de manhã, metia num saco tudo o que pertencia e saía para a vida dela.
- Isto para mim é muito simples – explicava. – Faz-me impressão como as pessoas são capazes de viver doutra maneira. Eu não preciso nem do teu dinheiro nem da tua casa. A verdade é que há quarenta anos que vivo sem ti. As pessoas têm que descobrir que viver o amor é qualquer coisa diferente dos jogos, normalmente perversos, do seu ego carenciado. Eu gosto muito de ti mas tenho a consciência de que há em mim um destino meu e que grande parte das teorias sobre a dualidade são justificações para a nossa terrível tentação de dependência. Gostamos de andar encostados uns aos outros e não há maneira de nos curarmos disso. O que temos de aprender não é com um outro, é com os outros. Se eu te dissesse que eras a razão da minha vida, estava a mentir-te. Tu dás-me muito e eu gosto muito de ti. Estou farta de te dizer que gosto do teu carinho e que nenhum homem me deu a paz que tu me dás. E é isso que dá prazer e faz, do fazer amor contigo, o prazer que nunca ninguém me deu ainda. A gente demora a libertar-se desta coisa de o desejo tomar as iniciativas. Hoje, para mim não é o desejo que comanda o amor: bom é o desejo que o amor provoca.”
(António Alçada Baptista in O Riso de Deus)
Cada vez mais o amor confunde-se com carência, dependência, exigência ou posse, quando de facto deveria ser uma dádiva, um sentimento para ser vivido e sentido como resultado (e também causa) de uma pacificação e serenidade interior. O amor não deveria necessitar de se transformar num acto pensado ou de ser dissecado pela razão.
Apesar de sabermos tudo isso, continuamos constantemente a querer complicar o que deveria permanecer puro e simples. Fica a esperança que a vida nos ensine a vivê-lo mais serenamente e assim desfrutar da sua essência mais autêntica, sem ansiedades escusadas e medos condicionantes.
Via-se que não queria criar comigo qualquer espécie de dependência e a única coisa que esperava de mim era o meu afecto e a minha paz. Nunca quis a chave de minha casa e telefonava-me sempre antes de vir. Uma vez por outra, ficava a noite comigo mas, logo de manhã, metia num saco tudo o que pertencia e saía para a vida dela.
- Isto para mim é muito simples – explicava. – Faz-me impressão como as pessoas são capazes de viver doutra maneira. Eu não preciso nem do teu dinheiro nem da tua casa. A verdade é que há quarenta anos que vivo sem ti. As pessoas têm que descobrir que viver o amor é qualquer coisa diferente dos jogos, normalmente perversos, do seu ego carenciado. Eu gosto muito de ti mas tenho a consciência de que há em mim um destino meu e que grande parte das teorias sobre a dualidade são justificações para a nossa terrível tentação de dependência. Gostamos de andar encostados uns aos outros e não há maneira de nos curarmos disso. O que temos de aprender não é com um outro, é com os outros. Se eu te dissesse que eras a razão da minha vida, estava a mentir-te. Tu dás-me muito e eu gosto muito de ti. Estou farta de te dizer que gosto do teu carinho e que nenhum homem me deu a paz que tu me dás. E é isso que dá prazer e faz, do fazer amor contigo, o prazer que nunca ninguém me deu ainda. A gente demora a libertar-se desta coisa de o desejo tomar as iniciativas. Hoje, para mim não é o desejo que comanda o amor: bom é o desejo que o amor provoca.”
(António Alçada Baptista in O Riso de Deus)
Cada vez mais o amor confunde-se com carência, dependência, exigência ou posse, quando de facto deveria ser uma dádiva, um sentimento para ser vivido e sentido como resultado (e também causa) de uma pacificação e serenidade interior. O amor não deveria necessitar de se transformar num acto pensado ou de ser dissecado pela razão.
Apesar de sabermos tudo isso, continuamos constantemente a querer complicar o que deveria permanecer puro e simples. Fica a esperança que a vida nos ensine a vivê-lo mais serenamente e assim desfrutar da sua essência mais autêntica, sem ansiedades escusadas e medos condicionantes.